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República da Liberdade

Lula está em confinamento, mas não está sozinho. Muitas pessoas já ocupam a Vigília Democrática Pela Liberdade de Lula (Foto: Christiane Dias)

Uma nova cidade está nascendo no Brasil. Na fria e famosa “República de Curitiba” como ficou conhecida a capital paranaense, que concentra a investigação sobre o caso Lava-Jato, é agora a cidade da resistência, endereço da Vigília Democrática Pela Liberdade de Lula e, sem medo de errar, atualmente a cidade que mais cresce no país. Com serviços de saúde, segurança, alimentação, transporte e cultura, a vigília nessa cidade ideal só terminará com a libertação do ex-presidente Lula, considerado por muitos o primeiro preso político desde o final da ditadura militar (1964-1985). Presidente que trabalhou pela redução da pobreza no país, e primeiro colocado nas pesquisas para as eleições de outubro.

Lula, de 72 anos, está preso em uma sala solitária na sede da Polícia Federal de Curitiba. O que não impediu o Partido dos Trabalhadores de confirmar na segunda-feira, dia 9, que ele será inscrito como candidato. A notícia foi comemorada pelos “moradores” da cidade, que não esperavam outra coisa. Durante a segunda-feira, terceiro dia da prisão, muitas pessoas passaram pelas quatro ruas em frente ao prédio da Superintendência da Polícia Federal, onde está Lula. Ocupam estes espaços principalmente pessoas do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST), além de representantes de organizações estudantis, movimentos sociais e políticos. A principal divisa da cidade é uma faixa de segurança atrás de onde se posicionam policiais federais e militares fortemente armados. E é nessa divisa que está a praça Olga Benário, nome dado em homenagem à militante comunista alemã que viveu no Brasil e, por meio das mãos do mesmo Supremo Tribunal Federal que negou um pedido constitucional de habeas corpus, foi deportada grávida para um campo nazista, onde morreu.

Muitos políticos visitam o acampamento de protesto para conversar com os ativistas. Da esquerda para direita, Senator Lindberg Farias, Deputado João Paulo ambos do PT, Manuela d’Ávila PC do B e Paulo Pimenta, PT. (Foto: Christiane Dias)

No espaço da vigília, no entanto, o clima é de paz, música e, por que não, de uma sonhada união da esquerda. O golpe jurídico/parlamentar/midiático que tirou do poder a presidenta Dilma Rousseff, agora ameaça a volta de Lula. Candidata pelo PC do B, a deputado estadual pelo Rio Grande do Sul, Manuela d´Ávila, se disse triste pela violência da prisão de Lula, que atribui à vaidade de um juiz de primeira instância e um processo esdrúxulo. Ela diz que qualquer programa para as eleições previstas para outubro tem que passar pela exigência da liberdade do ex-presidente. “Lula livre é Brasil livre. Ele fez o Brasil ser grande no mundo inteiro”, discursou. Para a candidata, não há plano B, ela espera estar com Lula no segundo turno do pleito para presidente. Ao junge Welt, Manuela confirmou que uma grande rede de apoio internacional está sendo mobilizada. “Estamos nos dividindo para conversarmos com políticos da Espanha, Uruguai, Argentina e outros países”. O uruguaio Pepe Mujica e o argentino Adolfo Pérez Esquivel devem vir ao Brasil ainda esta semana.

O êxito da vigilância e a adesão de novas pessoas a cada dia vai fazer com que o movimento seja criado também em Brasília e no Rio de Janeiro, a partir de quarta-feira. Para o líder do MST, João Pedro Stédile, em conversa com o junge Welt, o que se vê na vigilância é um local de demonstração de solidariedade. “É como se todos nós estivéssemos visitando o Lula”. E descartou a retirada das pessoas do movimento da resistência: “Nós nos manteremos em vigília até a libertação total do Lula”.

Foto: Christiane Dias

Na cidade de Curitiba, por outro lado, o assunto da prisão do presidente não é unanimidade. Andar de camiseta vermelha (a cor do Partido dos Trabalhadores) por exemplo, não é completamente seguro e este é o primeiro aviso dado às pessoas que chegam à capital paranaense. Há sempre novos insultos e você corre o risco de ser assediado pela polícia. Contudo, na vigília, é esse o uniforme da imensa maioria. “Nós viemos sem camiseta vermelha ou qualquer adesivo para não ter problema na estrada”, explica um integrante do Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre. “Se você for sair do acampamento, tire essa camiseta”, aconselha uma senhora do MST a uma estudante. Fora do espaço da cidade da resistência, a vida segue com o crescimento do desemprego e alta de preços negada por quem deu o golpe.

thumbnail of 2018-04-11-Republik der FreiheitUm organizador da vigília, Valter de Jesus Leite, coordenador do MST, disse que a “cidade” foi erguida em apenas uma noite. “É uma organização coletiva e comunitária. As pessoas que estão aqui são trabalhadores e trabalhadoras, que distribuíram as tarefas da produção de alimentos nas lavouras para outros camponeses, por conta dessa participação comunitária”. De fato, nas várias plenárias que acontecem durante o dia no acampamento, a ordem, o respeito aos moradores “originais” da cidade e a limpeza são sempre destacados. Às provocações que surgem de pessoas isoladas, os resistentes só têm uma resposta: “Lula livre, lula inocente”, gritam em coro.

Autor: Christiane Dias. Tradução: Peter Steiniger. Revisão português: Erica Caminha Hassmann. Originariamente publicado em: junge Welt, 11.4.2018, Link